terça-feira, 15 de maio de 2012

Yoga na vida

 
No Bhagavadgītā (em sânscrito: भगवद्गीता, transl. Bhagavad Gītā, "Canção de Deus") um texto hindu que relata o diálogo de Krishna (uma das encarnações de Vishnu) com Arjuna (seu discípulo guerreiro), encontramos uma série de ensinamentos de como, através de  pensamentos e atitudes aplicar o Yoga na vida, nas ações do dia a dia por meio de valores (jnãna) transmitidos pela tradição Hindu.
Estes ensinamentos de Krishna a Arjuna servem de base para que possamos aplicar estes códigos de condutas em nossas vidas diárias tornando-as mais integras e felizes. Vejamos alguns destes ensinamentos:

Amanitvam, ausência de vaidade, ausência de arrogância ou de necessidade de elogio. 
Podemos entender amanitvam como humildade, desapego das necessidades de reconhecimento. Devemos nos desprender da inópia do retorno das ações que empreendemos. Parte de nossos sofrimentos surgem do fato de exigirmos  um grau  de respeito e reconhecimento que muitas vezes não coincide com o que recebemos de nossos semelhantes. No entanto, aquele que reconhece seu autovalor e suas capacidades não sente a necessidade de ser reconhecido, está preenchido de amanitvam e é feliz.

Adambhitvam, ausência de pretensão.
Adambhitvam diz respeito as nossas verdades, aquilo que somos e devemos transparecer, sem nos apoiarmos em falsas idéias a respeito de nós mesmos na busca de aceitação ou inserção. Viver nossa verdadeira essência, nossa espontaneidade, autenticidade, sem pretensão de sermos o que não somos, porque o que somos em verdade é o melhor que podemos ser agora.


 Ahimsa, não-violência.
Este é o valor fundamental para se viver uma vida yóguica. Cultivar a não-violência nas palavras, nos pensamentos e ações. Ahimsa é promover a paz e nos aproximar de nossa verdadeira condição humana e natureza; a plenitude e a felicidade.

Kshanti, pacífica adaptabilidade.
A adaptação promove uma atitude positiva, nos afastando do pessimismo e do sofrimento desnecessário. Quando alegre e sinceramente aceitamos aquilo que não podemos modificar nos adaptando às situações que se apresentam, somos capazes de enxergar a oportunidade de aprendizado e crescimento contidos em todas as adversidades.

Arjavam, retidão.
Arjavam é o valor da veracidade, do repeito aos próprios princípios, a convergência entre os pensamentos, as palavras e as ações. Quando não cultivamos a retidão nossa vida fica fragmentada, o pensamento é um, a palavra outra e acabamos por ter uma atitude totalmente diferente daquilo que pensamos e dizemos e isso fere a nossa integridade e confiabilidade.

Acharyopasanam, dedicação ao professor.
Acharya ou guru (professor) é aquele que representa a própria tradição, aquele que busca observar, preservar, sustentar e transmitir os valores do yoga. Acharyopasanam é a dedicação e o repeito a àquele que verdadeiramente vive e ensina as virtudes da vida yóguica.

Shauchan, purificação.
Trata-se da purificação em dois aspectos, a purificação externa no que diz respeito a hábitos de higiene, purificando e limpando o corpo, os cuidados com o corpo que levam a interiorização e consequentemente ao segundo aspecto; a purificação interna que consiste em cultivar pensamentos e atitudes elevadas.


Sthairyam, firmeza de propósito.
Sthaityam significa estabilidade, firmeza. O cultivo do foco de vida, o estado de tranquilidade que nos faz manter o foco em nossos propósitos, que para o yogini deve ser o de alcançar moksha (a libertação), o pleno autoconhecimento no intuito de alcançar uma vida de significado e paz.


Ātma-vinigraha, comando sobre o pensamento.
A capacidade de manter a concentração da mente no momento presente, o exercício contínuo de vivenciar o agora, que naturalmente impede que a mente vagueie e nos afaste do nosso próposito. A habilidade de conscientemente escolhermos o que devemos pensar e cultivar bons pensamentos que nos levem ao desenvolvimento e autocompreensão.

Indriyartheśu vairāgyam, desapego em relação aos objetos dos sentidos.
Indriyartheshu se refere a atitude de reconhecer os verdadeiros valores dos objetos, pessoas e relacionamentos, sem projeções que não lhes sejam intrínsecas, e assim, livrar-se dos sofrimentos advindos das vontades, caprichos e carências.

Anahaṅkāra, ausência de identificação com as coisas do ego.
Devemos encarar o ego como ele é, sem nos identificarmos com ele, está é a proposta de  Anahaṅkāra. Diz respeito a nossa capacidade de observar os desejos e aversões sem o engodo de nos envolver na falsa idéias de que somos estes desejos e estas aversões.


Janma-mṛtyu-jara-vyādhi-duḥkha-dośa-anudarśanam, reflexão sobre as limitações do nascimento, a morte, a velhice, a doença e a dor.
Este é o valor fundamental para o alcance do moksha (libertação) da roda de samsara (encarnações), onde temos a oportunidade de refletir sobre o nascimento e a morte e tudo o que existe paralelo a isto. A oportunidade de aceitar a vida como ela é e desfrutar de tudo que ela nos oferece.


Aśakti, ausência de apego à ideia de posse.
Aśakti significa abrir mão, a idéia de desapego, a compreensão de que nada nos pertence e tudo é absolutamente impermanente. Este desapego se refere tanto a objetos materiais, como a pessoas, sentimentos e relacionamentos.


Anabiśvaṅgaḥ putra-dara-gṛha-adiśu, equanimidade afetiva.
Nada de afeição restritiva e excessiva. Nossas relações afetivas devem ser pautadas no respeito, confiança e equilíbrio. Devemos amar e ter compaixão sem projetar nossas inseguranças e medos, isso só nos leva a sofrimentos.


Nityam samachittatvam iśtaniṣṭopapattiṣu, equanimidade constante.
Este é sem dúvida um dos pilares do yoga, o equilíbrio constante, através de práticas sérias e dedicação, a busca pelo equilíbrio mental e espiritual e a estabilidade emocional.

Mayi cha ananya-yogena bhaktih avyabicharini, devoção inabalável.
Confiança e devoção incondicional aos próprios princípios, crenças e autenticidade. Devoção a sua identidade verdadeira.

Vivikta-deśa sevitvam, apreço por um lugar tranquilo.
O apreço por um lugar tranquilo não se restringe a um lugar físico, é ótimo termos um lugar tranquilo para nos retirar, meditar ou simplesmente relaxar, no entanto, está paz deve ser encontrada em si mesmo, devemos cultivar este lugar de tranquilidade dentro de nós mesmos, cultivar a paz de espirito.

Aratiḥ janasamsadi, apreço pela solitude.
Apreciar a própria companhia e não sofrer pela falta do outro.Compreender que às vezes um pouco de solidão nos faz bem, ao passo que podemos ouvir nossos diálogos internos, observá-los e compreendermo-nos. 

Tattva-jñāna-artha-darśanam, foco e clareza na verdade.
A busca pelo conhecimento da verdade, talvez seja este um dos valores mais importantes da vida yoguica, pois reconhecemos nossa realidade e nós compreendemos numa interação com todas as coisas.

Adhyātma-jñāna nityatvaṁ, disposição contínua para o autoconhecimento.
A atenção e dedicação constantes no caminho do autoconhecimento, o despertar para tudo que nos cerca, no momento presente e agora, vivenciando tudo o que somos.






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